Pesquisa da Organização Mundial da Saúde aponta que 9,3% dos brasileiros sofrem de transtorno de ansiedade, o que coloca o país entre os que registram os maiores números de casos. E a ansiedade não causa apenas dificuldade de concentração e alterações no sono. Este é um mal que está por trás do surgimento do refluxo gasoesofágico, doença crônica do aparelho digestivo que faz com que o ácido do estômago ou da bile retorne pelo esôfago, irritando a mucosa do tubo alimentar e provocando o aumento de problemas digestivos. Os pacientes que têm hérnia de hiato apresentam ainda mais probabilidades de desenvolver a doença.
O cirurgião João Couto Neto lembra que a associação do refluxo à ansiedade ainda é pouco conhecida da população em geral, e lembra que “temos que ter em mente que a ansiedade se torna uma doença quando começa a repercutir também sobre a saúde física do paciente, produzindo alterações na secreção de suco gástrico.
O cirurgião chama a atenção para o fato de que “se o paciente tem hérnia de hiato, o mecanismo natural do organismo que impede que o ácido estômago chegue ao esôfago não existe”.
Entre os métodos mais usados para a definição do diagnóstico está a endoscopia, exame que introduz um tubo no com uma câmera no esôfago, examinando as lesões. Outro exame que pode ser realizado é o de pHmetria, que consiste na introdução de um cateter pelo nariz, com sensores que detectam a presença de conteúdo ácido em diferentes pontos do esôfago, além de determinar o número de episódios de refluxo e duração de cada um, possibilitando que seja confirmada a existência da doença. O médico pode ainda solicitar um exame de manometria esofágica, que determina como estão os músculos do esôfago através da inserção de um cateter pelo nariz, com um sensor que mede a pressão dos músculos quando eles se contraem. Outro exame de diagnóstico comum é a seriografia, realizado a partir de uma série de raios-X feitos após o paciente beber uma mistura de bário e água. A solução passa pelo trato, possibilitando melhor visão dos órgãos, expondo possíveis anormalidades.
Como saber se tenho refluxo?
Os sintomas mais característicos do refluxo são azia e queimação. A sensação de “bolo” na garganta, irritação na garganta e no pulmão, rouquidão, dor na garganta, tosse seca, náusea após as refeições, formação de aftas, e dor no peito também podem se tornar recorrentes, e muitas vezes são confundidos com outras doenças.
O tratamento pode ser medicamentoso, de acordo com o estágio em que se encontra, associado a algumas mudanças de hábitos como:
– Comer pequenas refeições, e evitar alimentos que já se sabe que desencadeiam crises de refluxo, como pimenta, chocolate e bebidas alcoólicas.
– Durante o sono, manter a parte superior do corpo levemente elevada.
– Não tomar líquidos com as refeições
– Não deitar até 30 minutos após as refeições
– Comer devagar; mastigar bem os alimentos
– Não usar roupas que apertem na cintura e abdômen
– Fazer pequenas refeições – especialmente no jantar
– Comer pelo menos três horas antes de dormir.
Quando a cirurgia é indicada?
A cirurgia para o refluxo gastroesofágico é indicada quando o tratamento com medicamentos e cuidados alimentares não traz resultados, e/ou começam a surgir complicações. Por isso, ela só é indicada depois de experimentar outros tipos de tratamentos. Outra questão importante é a idade do paciente. Se ele for jovem, indica-se também a correção cirúrgica, caso contrário, será uma longa vida de medicações e cuidados
A primeira intervenção médica em casos de refluxo gastroesofágico é medicamentosa, associada a mudanças na alimentação. Quando o tratamento não surte os efeitos desejados, e começam a aparecer complicações, é aconselhável procurar um cirurgião para uma avaliação. As complicações mais comuns do refluxo são o surgimento de úlceras ou o desenvolvimento do chamado esôfago de Barret (quando ocorre mudança no tecido que reveste o esôfago, que deixa de ser escamoso para tornar-se epitélio colunar, que é o tecido do estômago e do intestino, o que é conhecido como metaplasia intestinal).
Nestes casos, a medida aconselhada pelo Dr. João Couto Neto é que o paciente procure um médico que possa avaliar a necessidade da realização de cirurgia.
A cirurgia e a recuperação
A cirurgia de refluxo é uma das especialidades do Dr. João Couto Neto. Ele explica que ela é feita com anestesia geral, com pequenos microfuros no abdômen. “Hoje com as tecnologias disponíveis, como a videolaparoscopia, a gente consegue fazer uma intervenção minimamente invasiva, o que é muito seguro para o paciente e de recuperação muito rápida”, explica.
O pós-cirúrgico é muito simples e rápido e o período de recuperação total do paciente relativo a não sentir mais nada pode chegar até dois meses em média. Nas primeiras semanas, o paciente passa a ter uma alimentação mais líquida e aos poucos retoma uma alimentação normal.